Maestria e cirurgia plástica

Maestria e cirurgia plástica

Tem uma palestra que inspira muito os meus trabalhos. Chama-se: “Embrace the Near Win” da Prof. Sara Lewis. Ela exemplifica com lampejos de genialidade a diferença entre o sucesso e a maestria. Nunca nos questionamos de tal forma. Qual a definição de sucesso? Certamente vários conceitos o descrevem. Por exemplo, um momento na carreira de alguém vitorioso, um “rótulo” que a sociedade confere por trabalhos bem executados; enfim, um reconhecimento externo por atitudes consideradas virtuosas. E maestria, tem um padrão definido? Bom, esse conceito foge de uma contextualização precisa. Ser mestre em alguma área é nunca estar satisfeito com o resultado atingido até então. Ou seja, são as sequências de “quase vitórias” que impulsionam os mestres a isso. Alguns clichês já são de conhecimento popular sobre esse tema. “Quanto mais me aprofundo em tal assunto, menos sei a respeito dele” dizia Umberto Eco dono de uma biblioteca de trinta mil livros. Um dado interessante sobre esse aspecto é a quantidade de obras de arte consideradas sublimes pelo público e inacabadas pelos seus autores. Kafka, por exemplo, teve livros publicados após sua morte, com frases inacabadas, os quais ele nem cogitava em ofertar aos seus leitores. “America”, “Metamorfose”, “Julgamento”. Honore de Balsac assinou dezoito por cento de seu legado.

Recuperaram-se óperas de Wolfgang Mozart, nos arredores de sua casa em Viena, logo após sua morte. Michelangelo inacreditavelmente não considerava a Capela Sistina uma obra acabada; a qual rendeu ao mesmo uma depressão profunda e uma artrose grave devido à posição que ficou durante três anos para pintá-la. Será que existe algo mais belo que essa pintura? Pois bem, a maestria; portanto, é uma busca incessante, um caminho sem fim, uma tenacidade produzida pela proximidade do que o “nosso antigo eu” enxergava como meta, mas esse era apenas o início de uma busca ainda maior.

Mudando o contexto, enxergo com clareza na Cirurgia Plástica – minha área de atuação – esses paradigmas serem buscados em seus limites conceituais. Hoje, através de uma grande evolução técnica em cirurgias de contorno corporal, enxergamos o corpo humano tridimensionalmente, ou seja, o que antes era retangular; porém, com excesso de tecido gorduroso, permanecia retangular após retirar-se a gordura. Curvilíneo, angulado, esculpido, no meu ponto de vista, é algo novo nesse campo. Usa-se tecnologia de vanguarda para isso (Lipoaspiração Ultrassônica), aprofundam-se abordagens anatômicas e nossos limites passam do simples rótulo do sucesso pela apaixonante busca pela maestria.

Publicado na Revista Nine, 53º Edição. p. 60, São Paulo. 2016
Escrito por Dr. Felipe Massignan.